Poeta e músico Antonio Cícero morre após optar por morte assistida na Suíça
Na última quarta-feira, 23, o poeta e músico brasileiro Antonio Cícero faleceu após optar por ter seu suiciidio assistido em procedimento legal na Suíça.
Ele, que já vinha sofrendo com o Alzheimer, doença onde o portador possui problemas de memória, se despediu por meio de cartas enviadas ao seus amigos próximos. Em suas palavras, Antonio escreve: “A morte é, na prática, o processo de morrer. Esse processo pode ser rápido ou demorado. O direito à eutanásia é o direito de quem está morrendo de abreviar esse processo, caso ele se torne excessivamente penoso. Abreviar a morte é torná-la mais breve”.
Antonio Cícero era irmão da cantora Marina Lima, principal intérprete das suas composições, membro da Academia Brasileira de Letras e escritor de um dos mais célebres poemas brasileiros, o “Guardar”.
Esse é um procedimento legal em alguns países como a Suíça, país onde ele escolheu para se despedir, e é diferente da eutanasia. A morte assistida é quando o paciente aplica o próprio líquido letal em seu corpo, já a eutanásia o médico, ou profissional da saúde, faz o procedimento, o qual é ilegal no país europeu.
Caros leitores, vocês acreditam que esse procedimento seria viável no Brasil?
Foto: Companhia das letras/Divulgação
Confira o poema “Guardar”:
“Guardar
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.”